Enrolados cada um em seu lençol, ele tocava guitarra, ela com aquele ar aluado de quem se deixa conduzir por algo incerto. Falavam de coisas amenas e sorriam embebecidos um pelo outro. O mundo lá fora era-lhes completamente alheio naqueles momentos.
De repente, ele faz um ar estranho, desconhecido para ela. Olha-a como quem vai rebentar se não exprimir algo que ela começou a adivinhar. "Espera! Achas que estou bem?" Ele pousa a guitarra sem desviar o olhar dela e avançou de mansinho. Foi-se inclinando sobre o corpo dela e ela deixando-se deitar ao ritmo dele. Os olhares pregados um no outro. E ele diz: "Daqui a 50 anos, eu vou poder dizer aos meus filhos, aos nossos filhos, que a mãe deles estava lindíssima no dia em que eu lhe disse que a amava."
É preciso ter cuidado com o que se diz da boca para fora. As palavras, por mais bonitas que sejam, não passam disso mesmo. Nem três dias depois, tudo ruíra. Ele em lugar incerto. Ela perdida no silêncio. Palavras são só palavras...
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