Trabalhar cansa e tira tempo para muitas coisas. Mas não me sinto bem em descurar um espaço no qual já encontrei um refúgio.
Mas vamos a coisas que interessem, a mim. :)
Novidades não há quase nenhumas e o problema começa logo aí. Quem me conhece, sabe que não gosto que a vida me aconteça. Gosto de ser eu a fazer as coisas acontecer. E, apesar de me sentir no controlo da minha vida, sinto que ela me passa sem nada de substancial que fique no futuro. Não há datas que tragam aquelas borboletas no estomago, que fiquem gravadas automaticamente na memória. E era assim de algo marcante que eu precisava para sentir que estou de facto a voltar a ser quem era, ainda que bastante diferente.
Este é outro problema. Depois do que se passou (e quem interessa sabe o que foi), fiquei com a personalidade meio dividida. Por um lado, ficaram bem presentes os desejos e sonhos de uma menina princesa que não chegou a tornar-se mulher. Por outro, os arrependimentos, vergonhas, medos e barreiras de um monstro que cometeu erros demais. No meio, estão as ambições e projectos de uma mulher que não sabe realmente quem é nem como se descobrir.
Existe ainda a questão de um perdão que existe ao nível racional, porque eu sei que tudo o que aconteceu deve servir como lição e como cicatriz de uma queda que não voltará a ser repetida. E isso depende de mim. Tendo em conta a minha necessidade de controlo, este é um ponto positivo. Mas não me consigo libertar da culpa que todos os flashbacks que a minha rica memória me proporciona. E não consigo esquecer que eu fui a actriz principal da minha própria tragédia.
E eu já merecia perdão. Merecia libertar-me de todo o peso que constituem os erros que cometi e as consequências que enfrentei. Mereço valorizar-me pela forma como reagi e não me deixei descambar como podia tão facilmente ter feito. Mereço olhar-me no espelho da alma e gostar. E deixar de me odiar e de me repudiar. Mereço deixar de compensar tanto pelo que vejo no espelho do corpo, sem sucesso nenhum. Mereço dar a mim própria uma oportunidade de voltar a ser quem sempre me orgulhei de ser, até ali.
Eu quero essa oportunidade de voltar a gostar de me olhar nos olhos. Quero voltar a sentir-me em mim, mas como a mulher para a qual não pude evoluir, porque me roubei a mim própria alguns degraus. Quero fazer a escalada e ser melhor no fim. E o fim não chegou e eu espero que não esteja longe.
Entre tanta lucidez, não consigo encontrar a solução. Por que apesar de saber tudo isto, não o sinto. E esse é o grande problema. Tornar o que é lúcido em sentimento, em confiança, em vida.
Enfrentar o facto de não ter controlo sobre isto. Assumir que preciso de ajuda, que tenho de deixar outra pessoa entrar é extremamente difícil para mim. Aceitar que preciso de alguém mais competente do que eu para me ajudar, é muito complicado. O pior de tudo é mesmo ter de passar por tudo outra vez, porque quem esteve lá da última vez, não está agora e muito vai ter de se repetir.
A boa notícia é que estou mais perto do fim que nunca e que vai ser como tem sido: sempre a subir!