quarta-feira, 23 de março de 2011

Não é?

E porque eu não sou inconsciente e não consigo fazer de conta que não vejo ou que não tenho opinião:

E diminuirmos o Estado Social ao mínimo e indispensável: no cuidado aos doentes sem família e à vacinação das crianças e coisas assim? Deixarmos que a caridade seja feita voluntariamente e não de forma obrigatória, indiscriminada e sem critérios.
E acabarmos com a participação do Estado na economia e potencializarmos a iniciativa privada, diminuindo assim a tentação pela corrupção política e deixando que as pessoas usem o seu dinheiro e propriedades conforme lhes aprouver?

E limitarmos a influência do Estado na vida das pessoas a uma acção de retaguarda e financiamento, fiscalização e manutenção das forças de segurança, que assegurasse apenas que a liberdade, dignidade e propriedade de cada um são preservadas?
E passarmos a decisão para o país e tornarmos os cidadãos responsáveis pela orientação económica e estratégica de Portugal? Acabavam-se assim as manifestações e deixávamos de precisar de uma Assembléia da República tão cobiçada e ironicamente sempre tão vazia.

E se a Função Pública fosse reduzida ao mínimo e passássemos a força de pessoal para o sector privado, reduzindo instantaneamente a despesa com pessoal que o Estado (aka todos nós) tem no nosso bolso?

Se deixássemos de avaliar a nossa Constituição e a reduzíssemos a princípios que orientassem o nosso povo para uma sociedade responsável, mais culta e livre? A lei deve ser feita para os homens, não ao contrário.

Quem quer apostar que reduzíamos o nosso défice em menos de dez anos, porque todo o dinheiro gasto em empresas do Estado que nunca chegam a pagar-se a si mesmas, e numa Função Pública recheada de pessoas mal-preparadas, mal-escolhidas e mal-habituadas, e em fugas nunca explicadas e sempre abafadas e ignoradas por um povo que se queixa muito, mas que prefere assim, porque "a culpa assim morre solteira" e "eles - quem quer que eles sejam - nos ficam sempre a dever, ia ser todo conduzido para pagar os juros absurdos de uma dívida pública que foi comprada pelos mesmos parvos que se queixam de tudo e por nada para lhes pagar os subsídios, e os abonos, e os benefícios e as ajudas.

Talvez viéssemos mesmo a ser uma potência mundial. Talvez, finalmente, conseguíssemos ver o potencial turístico, científico e financeiro que Portugal encerra em si.

Mas são muitos "ses" e demasiados "talvez" para um país de medíocres que não quer mudança. Quer é conforto e mama e promessas vazias. Afinal, toda a gente se queixa que é vira o disco e toca o mesmo, mas alguém vota sempre nos mesmos que estão lá sempre. Não é?

terça-feira, 15 de março de 2011

Vai um manguito à Zé Povinho! (1)


Tendo em conta o estado em que o nosso país se encontra, talvez nos devêssemos perguntar primeiro: qual é o verdadeiro problema de Portugal? Talvez a maioria das pessoas ficasse surpreendida quando realizasse que o problema real, profundo, crónico até, não passa pela governação, pelos políticos, nem pela situação económica internacional. Talvez se surpreendessem com a constatação de que estes são sintomas de algo que é uma culpa que não vem de cima, mas de dentro, de si.

Ao longo dos anos, séculos, o Português perdeu aquelas características únicas que muitos consideravam pouco evoluída, de baixo nível. 

O Português era um homem ou uma mulher sem vergonha na sua profissão, fosse ela uma padeira, ou um poeta. O Português consumia o que era seu, não porque era nacionalista ferrenho (ainda que o fosse convictamente), mas porque o seu era o melhor que alguma vez poderia encontrar. O Português era alguém ponderado, convicto dos seus princípios e crenças. O Português não abria mão da sua honra, do seu trabalho, nem dos frutos deste. O Português era uma pessoa que se esforçava ao limite pela sua família, mas também pelo seu país. O Português não mendigava, não por vergonha, mas por orgulho. O Português sabia o que conseguia realizar pelas suas próprias mãos e não aceitava nada de ninguém que não fosse merecido. O Português viajava e absorvia a beleza de cada lugar, mas mantinha a sua identidade. O Português sempre aprendeu rapidamente qualquer idioma, mas escrevia a alma sempre na Língua da saudade. O Português primitivo, hoje visto como labrego, como sujo de terra e de ideias retrógradas nunca faria uma manifestação exigindo que lhe resolvessem os problemas. O Português, sem baixar a cabeça ou os braços, suaria as estopinhas para conseguir pelo seu próprio pulso tudo quando desejasse. O Português encarou a fome, a dor, a perda como parte de um caminho de realização, de sucesso. 
Nunca ouvi o meu bisavô dizer mal de um Português. Nunca o ouvi desonrar Portugal. Este orgulho na Pátria que a ditadura desvirtuou e que a "revolução" ridicularizou, retirou-nos muita identidade, muitas das qualidades que nos fizeram grandes e fortes. Todas as vezes que sem merecer, um português recebeu ajuda, subsídios, fundos comunitários, entre outras chupetas que fomos aceitando, o seu orgulho, a sua força, a sua identidade mirrou.

Hoje, vejo rejubilar uma geração "à rasca", que pede mais chupetas, porque não consegue viver sem a mamã(a). Quem é que os pôs lá? Quem é que por votar errado ou não votar de todo lhes permitiu que um Primeiro-Ministro associado a praticamente todos os casos de corrupção política da última década, fosse o Chefe do Governo? Quem pela força da sua própria inércia lhe permite que tenha algum poder sobre si?

O poder que eles têm é virtual. Assenta no controlo que cada um lhes permite na sua vida. Nem o poder legislativo, nem o judicial, nem o executivo controlam se isso não lhes for permitido por quem é controlado.

Tanta gente e ninguém teve coragem de avançar medidas corajosas, desobedientes, duras, difíceis de manter? Aqui vão algumas: votem em branco (o regime acaba por cair); não respondam ao Census e não paguem a multa que eles vão mandar, não vão ao tribunal quando vos chamarem para dizerem porque não responderam e não pagaram; não paguem as portagens, nem as propinas, nem os impostos, nem as taxas, nem nada com que não concordem; não façam nada só porque vos mandaram; ouçam para além do que eles dizem; leiam mais e pensem mais. Se forem presos por defenderem os vossos princípios, já ganharam. Mas não há cadeias, polícias, tribunais para um conjunto determinado e preserverante de indivíduos que lute pacificamente por uma mudança verdadeira, dura, mas fortalecedora. Nem um Exército pára a força de um país com sede de melhoria.

Se um dia, com a desculpa da segurança da "comunidade", vos mandarem enfiar um chip no cú, pensem antes de obedecer. Não se admirem com a expressão. Eu falo em bom Português. E não se surpreendam com a sugestão de medida, porque a maioria da carneirada já tem o chip no carro, só porque lhes mandaram. Agora, insurgem-se com as multas que os chips permitem passar. Que parvos que são, de facto!

Voltas no túmulo dá quem nos permitiu um dia erguer uma bandeira com castelos azuis e um escudo impenetrável, por todas as vezes que nos prostituímos a um estilo de vida confortável, mas preguiçoso. Mais vale deitar no lixo os versos de Camões, Pessoa e todos os outros que um dia foram abençoados por uma Língua difícil, complexa, linda, maior, erguida em bases de rocha. Uma Língua que evoluiu naturalmente, na boca de um povo de peito erguido e de face roxa do trabalho ao sol. Uma Língua que se esquece e abandona por um mercado internacional mais apelativo que fomos NÓS a criar, a permitir, a educar. O Zé Povinho é uma marca de confiança, de revolta, não contra os que não lhe dão o que ele quer sem pedir nada em troca, mas de quem é capaz de fazer um manguito a todos aqueles que se atravessam entre ele e o seu objectivo de vitória.
Perda de identidade é do que nós sofremos. Não sabemos onde está a nossa fronteira física, linguística... Não sabemos de onde viemos, o que já conseguiram em nome da nossa terra. A maioria dos ditos portugueses nem sabe que se tivessem orgulho no que já se fez em nosso nome - porque nós somos as gerações vindouras do nosso passado - se escreviam sempre como Portugueses de Portugal!

E assim é clara a mediocridade em que caímos. Ninguém dá o seu melhor por nada. Ninguém vê no obstáculo, na dificuldade, um desafio, uma meta. Só se ouvem queixas, lamúrias de gente fraca, empobrecida de ideias, de ideais, de tudo. Mesmo sem Novo Acordo Ortográfico, são muito poucos os que ainda sabem falar ou escrever a Língua Portuguesa.
Eu comecei este texto com vontade de falar de Desobediência Civil. Queria acreditar que fosse possível haver nesta terra gente suficiente para levar a cabo a mudança que ela precisa. Que houvesse dignidade suficiente entre nós para que os ideais fossem mais fortes que a necessidade de conforto, de segurança que nos incapacita mais a cada dia. Ir para a cadeia é um orgulho quando é feito por algo maior. Mas abandonar o sofá, a preguiça, a mediocridade exige dos portugueses muito mais do que aquilo que lhes resta para dar.

Vale a pena dizer a alguém que troça com os velhos porque eles dizem que nós não sabemos o que são tempos difíceis, que eles têm razão? Que a nossa prepotência é absurda face a uma pessoa que sustentou a família com uma sardinha por dia, para quatro pessoas! Que andava descalço e lavava a roupa à mão no rio gelado! Que trabalhava desde o amanhecer até ao pôr-do-sol para ganhar uma miséria, mas que era toda merecida. Toda! Que educava os filhos duramente, não por falta de amor, mas por causa dele. Que lhes ensinava como resistir aos estalos da vida, às pedras do caminho, às amarguras da perda.

Não sabemos o quão ingratos somos para com esses velhos que andam entre nós, humildes, de costas vergadas, rezando por nós, usando os trapos de há 20 anos, porque não sabem viver na luxúria, na prepotência, na arrogância que a fraqueza nos permite. Eles, sim, são explorados, enganados, gozados. Eles ainda hoje passam fome. E não é o Estado do Governo que os abandona todos os dias. São os filhos e os netos e os bisnetos que se afastam quando as suas mãos enrugadas, calejadas, cansadas, mas esperançosas lhes tentam tocar, abraçar. Não para pedir, mas para dar. E são muito superiores do que qualquer milionário. Porque eles têm muito mais para dar na sua mão vazia. Eles têm neles ainda o Português que a geração fraca, destruída, desnutrida de cultura e inteligência que se manifestou neste sábado na rua.

Geração à rasca, não. Geração rasca mesmo. Geração que não usa o que tem para nada. Que não sabe o que quer dizer ser Português. Lutem por algo maior que o vosso umbigo. Encham a vossa casa de velhos e aprendam que a luta não se faz na rua, ao Sábado, entre amigos e música. Encham o vosso coração de orgulho, de nacionalismo de 1143 e cresçam. Não abram a mão a pedir, fechem-na num instrumento e labutem. Não escolham os instrumentos bonitos, mas os úteis, os práticos. Agarrem qualquer oportunidade para melhorarem. Querem mudar alguma coisa? Comecem por vocês mesmos!

Já me dizia o meu avô, um dos meus velhos: "se fores a melhor, vais ser tu a escolher e a recusar." Trabalho para isso, avô. Para saber o que é ser melhor. Para saber o que é ser Portuguesa, não no papel, mas no coração e na identidade. 

Um manguito a todos os que sucumbem à sua própria fraqueza. Um brinde a todos os que se elevam em si mesmos!