Passe o tempo que passar, sei que isto não vai desaparecer. Tudo o que fazemos ao longo da nossa vida, passa a fazer parte de nós. Nunca vou poder apagar memórias (minhas e de outros), nem consequências, nem resquícios, nem nada. A única coisa que se apagou foi a oportunidade de escolher outro caminho. A questão que se põe é o que se segue então?
Hoje, ao pensar nisso (como faço todos os dias inevitavelmente) imaginei-me num futuro não muito longínquo. As hipóteses são sempre muito similares a duas muito básicas: um buraco muito escuro da existência na memória de outros, que é muito incerta, porque de facto não faço ideia de como as pessoas me guardam ou me guardariam; ou uma sobrevivência vazia e transparente, com o objectivo único de não ser motivo para mais sofrimento para ninguém.
Nenhuma das duas satisfaria ninguém no seu perfeito juízo. Provavelmente a segunda levaria mais tarde ou mais cedo à primeira, tendo como diferença a qualidade das memórias dos outros sobre mim. Talvez desta forma não se lembrassem tanto de mim, ou a minha ausência não fosse tão sentida, ou talvez não fosse sentida de todo. Melhor assim, talvez.
De qualquer das formas, nada de mim se faria de útil para mim mesma. E se pudesse escolher, talvez não chegasse tão longe. Há noites muito más, mas há sempre dias piores. E também alturas em que não há nenhumas melhorias e quando as soluções que outrora funcionaram não têm efeito nenhum. Talvez signifique que as soluções se acabam e que o fim se aproxima.
A verdade é que "morrer por ser preciso" deixa de ser uma hipótese boa e passa a ser uma utopia. Antes morrer só porque sim. Porque inventar motivos para sobreviver todos os dias é cansativo e, sinceramente, cada vez me parece interessar menos. Cada vez me parece mais que seria preferível não estar, a estar assim. Começa a ser difícil segurar a máscara e as pessoas começam a ficar fartas da minha tristeza. Até eu estou farta. E se a minha tristeza chateia tanto, e entendo que chateie, então eu não quero mais. Já não quero há muito, muito tempo.
Segurar as pontas porquê, por quem, para quê e até quando?
Provavelmente ninguém irá ler. Talvez por isso me permito o desabafo. Talvez continuar a escrever seja estúpido. Qual o objectivo?
Alguém escreveu, um dia, "Este foi o meu funeral." Quem me dera escrever o meu, mas de verdade. Escrever o fim, at last, e acabar com isto tudo. Não é egoísmo, é cansaço.