domingo, 30 de novembro de 2008

Olhando para trás, onde é que está o que de bom me pode manter aqui? Mesmo agora, no presente, mesmo sem tentar fazer nada, nem bem nem mal, acabo por estragar como a ferrugem. Tremo dos pés à cabeça se penso no que me toca o futuro. Quanto mais pode uma fraca aguentar? Quantas lágrimas chorarei e deixarei por chorar até que se acabe tudo?
Vontade para nada. Sonho nenhum. Agradecimentos sinceros a todos os que tentam pôr-me um sorriso na cara, mais ainda aos que conseguem uma pequena gargalhada (às vezes tão fingida que se torna desproporcional). Desculpas por não conseguir corresponder.
Tudo inútil, porque no fundo não muda nada pedir desculpas ou agradecer. A vida não dá segundas oportunidades. Dá dias para continuar a sofrer, para recordar, para desistir sem poder fazer sequer isso. Amarras de dor.
Não há nada a fazer. Quem era já não é. Infeliz do que me conhece no agora. Estou a ser presunçosa. A diferença é eu ser mais indiferente. Seja pelo melhor.
Baixar os braços e esperar. Ela vem para todos. Há-de vir também para mim.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Estivemos todo o dia à espera. Falámos, enervámo-nos, rimo-nos, preocupámo-nos, desesperámos, mas no final ele nasceu. Porque a Diana não conseguiu fazer a dilatação e estava a perder líquido (o que constituía um risco para o bebé), teve de se submeter a uma cesariana. Mas está tudo bem.
O menino nasceu com 3,200kg, 48,5cm e cabelo ruivo, por mais improvável que isso possa parecer. Nasceu bonito, sossegado. A mãe tem dores e está a aprender a cuidar dele, como ele está a aprender a viver. Todos estão contentes. Aqui fica a foto.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Coisas fixes

Nem sempre o talento perde em Portugal. Apesar de sermos um país muito pouco dado à honestidade e à premiação do que realmente é bom, fez-se história e o jardim da Diana ganhou o Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, claro. Para além de ser extremamente bonito, também representa exactamente aquilo que o tema sugeria. Há que criticar o que está mal, mas também há que realçar o que vale a pena. E este país precisa mesmo de coisas boas, para ver se o "povo" aprende a abrir os olhos.
Parabéns Diana e colegas!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Passe o tempo que passar, sei que isto não vai desaparecer. Tudo o que fazemos ao longo da nossa vida, passa a fazer parte de nós. Nunca vou poder apagar memórias (minhas e de outros), nem consequências, nem resquícios, nem nada. A única coisa que se apagou foi a oportunidade de escolher outro caminho. A questão que se põe é o que se segue então?
Hoje, ao pensar nisso (como faço todos os dias inevitavelmente) imaginei-me num futuro não muito longínquo. As hipóteses são sempre muito similares a duas muito básicas: um buraco muito escuro da existência na memória de outros, que é muito incerta, porque de facto não faço ideia de como as pessoas me guardam ou me guardariam; ou uma sobrevivência vazia e transparente, com o objectivo único de não ser motivo para mais sofrimento para ninguém.
Nenhuma das duas satisfaria ninguém no seu perfeito juízo. Provavelmente a segunda levaria mais tarde ou mais cedo à primeira, tendo como diferença a qualidade das memórias dos outros sobre mim. Talvez desta forma não se lembrassem tanto de mim, ou a minha ausência não fosse tão sentida, ou talvez não fosse sentida de todo. Melhor assim, talvez.
De qualquer das formas, nada de mim se faria de útil para mim mesma. E se pudesse escolher, talvez não chegasse tão longe. Há noites muito más, mas há sempre dias piores. E também alturas em que não há nenhumas melhorias e quando as soluções que outrora funcionaram não têm efeito nenhum. Talvez signifique que as soluções se acabam e que o fim se aproxima.
A verdade é que "morrer por ser preciso" deixa de ser uma hipótese boa e passa a ser uma utopia. Antes morrer só porque sim. Porque inventar motivos para sobreviver todos os dias é cansativo e, sinceramente, cada vez me parece interessar menos. Cada vez me parece mais que seria preferível não estar, a estar assim. Começa a ser difícil segurar a máscara e as pessoas começam a ficar fartas da minha tristeza. Até eu estou farta. E se a minha tristeza chateia tanto, e entendo que chateie, então eu não quero mais. Já não quero há muito, muito tempo.
Segurar as pontas porquê, por quem, para quê e até quando?
Provavelmente ninguém irá ler. Talvez por isso me permito o desabafo. Talvez continuar a escrever seja estúpido. Qual o objectivo?
Alguém escreveu, um dia, "Este foi o meu funeral." Quem me dera escrever o meu, mas de verdade. Escrever o fim, at last, e acabar com isto tudo. Não é egoísmo, é cansaço.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Como é que dizemos ao nosso próprio corpo e mente que vai ficar tudo bem? Que um dia o coração vai deixar de doer, que um dia os remorsos vão deixar de aparecer como fantasmas, que as memórias vão deixar de ser penosas, que a vida voltará a saber a tal... Ainda que pareça que não, como convencemos o nosso próprio ser que tudo voltará a ter cor e que os nossos lábios voltarão a sorrir?

Não quero ser quem era. Só gostava que esta angústia me abandonasse.