Ontem fui com a Marta à estreia de A Febre, no TeCA. Como esperava, adorei a interpretação de João Reis. Desde há um tempo para cá, que prefiro ver a peça sem lhe ler a sinopse antes. Através da interpretação deve-se ser capaz de perceber tudo o que é importante no enredo. Apenas hoje fui ler o que está escrito sobre a peça no site oficial do Teatro. Concluo: a interpretação foi brilhante, tal como eu já esperava.
O texto de Wallace Shawn é interessante. É bom no sentido de mostrar como os pensamentos se atropelam e se confundem com a febre de uma doença, cujo nome não importa. A dicotomia natural nos humanos de quererem seguir o caminho que parece mais certo, mas que não corresponde ao que a vida oferece. A estranha confusão entre querer o que nos é mais confortável e ter de quase ignorar o que se passa fora da janela. O desconforto de ter de aceitar que nada - a vida, o mundo, as histórias, nós -, nada é perfeito, mas que é assim que funciona perfeitamente.
Há tempos abordei a confusão desta fase da vida, que parece ainda mais difícil e confusa do que a adolencência. Na adolescência temos de defender apenas com argumentos um código moral rígido, onde toda a realidade se encaixa como ou certa ou errada. Agora, pomos constantemente esse código moral em causa. Estamos constantemente a comprometê-lo nos nossos actos. E faz parte! Só assim esse código moral se transforma em experiência e se torna mais do que regras. Ficamos a saber o porquê dessas regras. E é agora que temos de cometer esses erros. Mais tarde, ficar-nos-ão mal. É agora que devemos passar os sonhos da adolescência para a experiência concreta. E é suposto cometer erros. Embrace your mistakes! Embrace your youth! Que a experiência de viverem os vossos sonhos não vos assuste. Senão entram no delírio assustador no qual a personagem de Shawn entrou.