quinta-feira, 28 de maio de 2009


O mundo está cada vez mais escuro de onde eu o olho. Ao falar de mim a um desconhecido apercebo-me que quem fui se perdeu para sempre. Algo em mim continuou sempre a acreditar que haveria um retorno, pelo menos a uma parte do que se perdeu. Mas não. Há impossíveis.


Olho para trás e tento recordar-me do que me fazia acordar todos os dias. A não existência da questão vital, o tal sentido de vida que todos acham que têm, uma missão. No fundo, todos queremos acreditar que há alguém que queremos ser. E é a busca desse alguém que nos faz mexer. Mas não a mim, porque eu não sei que quero ser. Só sei quem queria ser. Queria o impossível.


"O sonho comanda a vida". Mas neste caso, comanda-a para onde? em que sentido?


De todas as vezes que me sento e paro para pensar o que escrever a quem ainda aqui procura algo, é esta a questão que me afronta. O que me motiva? Qual a razão de continuar? Porque é que mesmo não querendo persisto em deixar o coração bater? Como é que ele ainda bate, mesmo com este peso e desgaste? Como suporto todos os minutos sem me desmanchar em lágrimas?


Há dias em que cedo à vontade de não ser, de não existir. Não saio da cama, de casa, de mim. O telemóvel toca para quem liga, mas não para mim. A televisão não me diz nada. Sou eu e eu e o silêncio. O vazio, que antes era assustador, é quase que uma casa para mim. Talvez seja a dor que me alimenta, ou que se alimenta de mim.


A vida pára quando não há caminho a seguir, quando não há metas a cortar. A minha parou quando confundi a nuvem com o céu e os troquei. De que serviu tanto erro, tanto arrependimento, tanta dor? Onde está a parte do crescimento que deveria surgir de tudo isto? A tal lição de vida que nos empurra de novo a tentar não sei o quê (porque não o vejo) de onde vem, quando vem? Será que vem?


Há que fazer o funeral de quem partiu: a menina feliz e cheia de certezas lineares e inflexíveis, de cabelos compridos ao vento, com aura brilhante e olhar maroto. Morreu a Leila das fantasias, do conselho fácil, dos braços abertos, do optimismo e da preserverança teimosa. Morreu a Leila dos amarelos e do moreno, da aventura e da unicidade. Morreu a Leila da Amélie Poulin.


A fénix pode até já ter renascido das cinzas. Mas quem é esta nova fenix? Esta não sorri tão facilmente, protege-se de situações de antiga euforia, esconde-se dos outros e até de si, atrás de trabalhos e prazos e obrigações que antes eram secundários. Esta não tem piada. É sarcástica e desistente. É piedosamente derrotada. Esta tem os braços caídos a toda a hora e arrasta-se numa vontade vazia.


Triste existência. Triste história. Triste merda.

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