Sentir saudades de nada e, ao mesmo tempo, sentir falta de tudo. Faz falta alguém inventado pelas ilusões podres que a solidão permite ter. Fantasias de um tempo, espaço e corpo que não existem, nunca existiram fora dos muros da sede desesperada de ser e ter como nos filmes, romances ou outras mentiras que tais.
Carregar este vazio cheio de nadas é difícil. Mas porquê? O que deve substituir o ar emperfumado para que o peso se desvaneça em concretizações, ainda que supérfulas?
Sempre advoguei que antes infeliz, que pateta alegre. Mas esses andam leves pelo caminho, saltitando como se atrás deles não viessem intempéries. Esses sorriem sinceramente. Não se preocupam com o que virá ou com o que foi. Provavelmente porque carregam um vazio de sentido, porque não sabem sequer o que lhes falta. Eu sei o que me falta. Já o tive, já o senti... Agora apenas tenho a cicatriz para o lembrar, para lhe sentir a falta. Talvez "esses" não tenham guardado cicatriz nenhuma, ferida nenhuma, mágoa nenhuma.
Mas não é preciso pensar para sentir. Basta ser. Mas quem sou eu? Ou melhor, o que sou?
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