segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Avó

A minha avó tem estado a morar connosco por motivos de saúde. E, ao contrário do que muitos possam pensar, tem sido uma bênção. Apesar de muitas vezes nos chatearmos, eu adoro tê-la comigo todos os dias. E, por isso, esta selecção é para ela, para a minha avó que já partiu e para todas as outras.
A Avó

A velha acorda sorrindo,

e a alegria a transfigura;
seu rosto fica mais lindo,
vendo tanta travessura,
e tanto barulho ouvindo.

A avó, que tem 80 anos,
está tão fraca e velhinha!...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,
repousa, pálida e fria,
depois de tanta canseira:
e cochila todo o dia,
e cochila e noite inteira.

Às vezes, porém, o bando
dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueando:
este briga, aquele fala,

aquele dança, pulando...

Chama os netos adorados,
beija-os, e, tremulamente,
passa os dedos engelhados,
lentamente, lentamente,
por seus cabelos doirados.

Fica mais moça, e palpita,
e recupera a memória,
quando um dos netinhos grita:
- Ó vovó!, conte uma história!
com uma história bonita!

Então, com frases pousadas,

conta histórias de quimeras,
em que há palácios de fadas,
e feiticeiras, e feras,
e princesas encantadas...

E os netinhos estremecem,
os contos acompanhando,
e as travessuras esquecem,
até que, a fronte inclinando,
sobre seu colo adormecem...

Olavo Bilac

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