As pessoas perguntam quando escrevo de novo, porque não o faço. Para dizer a verdade, não há nada de novo a dizer. Pelo menos, a mim não me apetece dizer nada.
Peço desculpa a todos os que tentam fazer-me sorrir, que tentam ajudar. Lamento porque sei que é frustrante não saber como ajudar e dar de caras com alguém que não quer ser ajudado e acredita profundamente que não há nada a fazer. Espero que entendam que não é por orgulho, nem porque quero atenção. Embora eu entenda o impacto da minha vísivel má-disposição constante, não procuro ninguém para desabafar, nem para me fazer vista. Antes fosse transparente...
Bom, antes do Natal, tive que enviar um trabalho para um Professor. Não é um trabalho convencional, mas também não o é o Professor. Basicamente o mote era que eu reflectisse acerca da minha visão focada para o negativo e se isso está ou não relacionado com o meu estado de espírito. Sei que ninguém vai entender tudo, mas é uma forma de isto ter algo de novo e de eu tentar explicar o que sinto, mais uma vez.
Não vou copiar tudo para não ficar demasiado comprido e porque nem tudo tem interesse.
"Tudo começou há cerca de um ano e meio atrás. Um dia, simplesmente acordei e olhei para trás. Estava tudo numa confusão: coisas que havia feito e nas quais não me reconhecia… Apesar de me ter apercebido num segundo, demorou meses até perceber que me perdi a mim, ao meu sorriso, à minha energia e apenas tinha restado uma máscara que escondia o caos cá dentro. Perdi pessoas que ainda são muito importantes para mim e com as quais nunca mais vou poder recuperar a relação que tinha. Perdi um ano de faculdade que me atrasou ainda mais o tempo de me tornar autónoma. (...) Percebi que havia coisas que cá dentro tinham morrido, como a felicidade ou o amor. Percebi que nunca mais iria poder voltar atrás e refazer todas as coisas que fiz mal ou que não deveria ter feito.
De uma hora para a outra, eu passei da rapariga sempre alegre e um pouco arrogante, cheia de amigos, ligada às pessoas, optimista, despreocupada até, para esta rapariga cheia de medos, cabisbaixa, pessimista, sem auto-estima nenhuma, alienada de todos, até de si própria. Para evitar perguntas, montei mesmo sem querer esta máscara que eu acho que se aproxima um pouco da outra “eu” que já não existe, mas a verdade é quem me conhecia de verdade notou. Notou nas olheiras dos vários meses de noites sem dormir, no sorriso forçado, na falta de energia, na minha ausência mesmo quando o corpo estava presente, na vida que já não me habitava.
E os sentimentos que se amontoam agora são de culpa, porque eu podia ter evitado tudo, ou pelo menos o que eu fiz, poderia ter feito as escolhas que eu sabia que eram certas, podia ter-me mantido fiel a mim própria e aos meus princípios; de arrependimento, por não ter acordado mais cedo para a realidade caótica que eu criei; de saudade, muita mesmo, de tudo o que eu perdi, as pessoas, as memorias, o futuro que eu mesma fiz desaparecer como areia por entre os dedos; e, sim, é tudo negativo aos meus olhos. Não consigo olhar o futuro e vê-lo. Para mim, é uma amálgama de desespero, solidão e nulidade.
Todos os dias penso porque se desperdiça uma vida em mim. Passam-se os dias e eu não vivo, nem sobrevivo. Passo pela vida sem a saborear. Para ser sincera, não a quero, nem a mereço. Há quem lhe chame auto-punição, pois seja. Há coisas que fazemos que têm consequências mais graves do que outras. Esta teve consequências fatais para mim.
Eu sei o que isto parece. Sei como soa às outras pessoas. Mas se é assim que eu me sinto, o que devo eu dizer? O contrário, para que as pessoas não se sintam mal, não fiquem sem saber o que dizer? Não posso fazer isso. Já aguento mal esta máscara para evitar as perguntas às quais não quero responder.
As pessoas dizem que “um dia vai ficar tudo bem”. Mas “um dia” não vai ficar nada tudo bem, porque eu não posso voltar atrás no tempo e remendar tudo. As pessoas dizem que tenho que ultrapassar isto e aprender com os meus erros e com tudo o que se passou. É verdade, eu aprendi muita coisa sobre mim, sobre os outros, sobre uma realidade fria e calculista em que vivemos. E, se pudesse, não teria aprendido nenhuma dessas coisas. Nenhuma dessas aprendizagens me ajudou, não me fez evoluir para ser melhor, não me deu nada que eu possa achar que estivesse em falta. As pessoas dizem que o tempo cura tudo. Já passou algum tempo e, durante esse tempo nada melhorou, muito menos eu. (...)
E os sentimentos que se amontoam agora são de culpa, porque eu podia ter evitado tudo, ou pelo menos o que eu fiz, poderia ter feito as escolhas que eu sabia que eram certas, podia ter-me mantido fiel a mim própria e aos meus princípios; de arrependimento, por não ter acordado mais cedo para a realidade caótica que eu criei; de saudade, muita mesmo, de tudo o que eu perdi, as pessoas, as memorias, o futuro que eu mesma fiz desaparecer como areia por entre os dedos; e, sim, é tudo negativo aos meus olhos. Não consigo olhar o futuro e vê-lo. Para mim, é uma amálgama de desespero, solidão e nulidade.
Todos os dias penso porque se desperdiça uma vida em mim. Passam-se os dias e eu não vivo, nem sobrevivo. Passo pela vida sem a saborear. Para ser sincera, não a quero, nem a mereço. Há quem lhe chame auto-punição, pois seja. Há coisas que fazemos que têm consequências mais graves do que outras. Esta teve consequências fatais para mim.
Eu sei o que isto parece. Sei como soa às outras pessoas. Mas se é assim que eu me sinto, o que devo eu dizer? O contrário, para que as pessoas não se sintam mal, não fiquem sem saber o que dizer? Não posso fazer isso. Já aguento mal esta máscara para evitar as perguntas às quais não quero responder.
As pessoas dizem que “um dia vai ficar tudo bem”. Mas “um dia” não vai ficar nada tudo bem, porque eu não posso voltar atrás no tempo e remendar tudo. As pessoas dizem que tenho que ultrapassar isto e aprender com os meus erros e com tudo o que se passou. É verdade, eu aprendi muita coisa sobre mim, sobre os outros, sobre uma realidade fria e calculista em que vivemos. E, se pudesse, não teria aprendido nenhuma dessas coisas. Nenhuma dessas aprendizagens me ajudou, não me fez evoluir para ser melhor, não me deu nada que eu possa achar que estivesse em falta. As pessoas dizem que o tempo cura tudo. Já passou algum tempo e, durante esse tempo nada melhorou, muito menos eu. (...)
Mudei para me tornar mais triste. Se os acontecimentos e as vivências a que somos expostos servem para nos fazer desenvolver, porque é que não nos podemos desenvolver para algo que os outros achem negativo, mas que faz sentido cá dentro? Eu não digo, porque estaria a mentir, que gosto de estar assim, de ser assim, mas sei que nada mudará. Talvez faça parte do conjunto do que sinto, mas talvez não.Portanto, respondendo à pergunta que me colocou: sim, o filtro negativo pelo qual passa tudo quanto vivo é causa directa desta minha maneira de estar.
simplesmente para te deixar um beijo e a força de sempre...
ResponderEliminarSe há coisas que não gosto de fazer é rotular. Se há coisas que não gosto de dizer são palavras de conforto em vão. Se há palavras que não gosto de proferir são aquelas que transmitem juízos de valor e moralismo. Ora, eu não sou ninguém para dizer o que está certo e errado, mas posso ser alguém que te pode ajudar, nem que seja a esboçar um simples sorriso ou a reflectires sobre o que tenho para te dizer. Quero que saibas que não acredito na "cura" pelo tempo, pois ela só depende de ti e das pessoas que te rodeiam. O tempo por si só, o máximo que pode fazer é atraiçoar a memória, para o bem ou para o mal... mas também permite espaço para tu reflectires. Também não acredito que simplesmente por que passamos por uma determinada situação, aprendamos com ela, pois só aprendemos se reflectirmos sobre ela e nos descentrarmos de nós próprios... por isso, não vejo uma mais valia enterrarmos somente nos nossos pensamentos, mas estarmos dispostos a escutar os outros e reflectir sobre aquilo que ouvimos, numa difícil tentativa de descentração de nós próprios. A vida não é nem nunca será para ninguém um paraíso, pois os maiores momentos da vida são passados a sofrer e temos de aprender a viver com ele (o sofrimento), assim como temos de aprender com os poucos (mas muito importantes)momentos de alegria que nos surgem. Isto não é uma visão pessimista, é a minha visão... só mais uma das muitas deste mundo. A vida é OPTAR, ESCOLHER e essas escolhas trazem sempre um risco associado, e nem sempre é bom! É fácil dizer "não te agarres ao passado, porque é impossível mudá-lo", mas bem sei que o dia-a-dia traz-nos sempre qualquer coisa que nos faz pensar "se eu tivesse feito isto ou aquilo". Mas, "eles" têm razão, isto é, o passado apesar de estar sempre connosco, não pode ser mudado, mas pode ser utilizado como exemplo de evitar novos erros e até propolcionador de respostas para o nosso presente, mas, como é óbvio, não são de caras... a vida não é de caras! E, como dizia, Maurice Blanchot, "as respostas são a má sorte das perguntas"... então, talvez devessemos procurar caminhos e não respostas! Há caminhos que nos levam ao passado, para reajustá-lo, não mudá-lo, porque isso é impossível...
ResponderEliminarEu podia ter evitado escrever este comentário no teu blog, mas decidi fazê-lo. Não será isto uma atitude a pensar já no futuro? Evitando, assim, que não diga depois "E se...".
Nota: Eu não te perguntei nada, nem interpretei o teu mal-estar... somente te quis deixar umas palavras. Uma vez o Júlio Machado Vaz, ao ler um poema de Eugénio de Andrade, disse que as palavras são como as sementes...
Abraço,
Tiago S. B.