Os dias foram passando e a água foi estagnando naquele lugar. Costumava ser uma água limpa, fresca, rica de vida e de futuro. Agora, sem explicação aparente, estava parada. Tinha ganho uma cor esverdeada, feia e suja. Ninguém conhecia o seu sabor, porque ninguém se aproximava dela sequer. Alguns, distraídos, já a tinham calcado. Se antes, com o movimento que a caracterizava as pegadas se apagavam imediatamente, agora permaneciam algum tempo marcadas na vegetação lamacenta que dela se tinha apoderado.
Quem nunca a tinha visto, tentava desviar o olhar. Afinal, que interesse tem uma poça de água ridícula, abandonada de vida e de beleza, que não vai para lado nenhum? Quem a conheceu antes de, por algum motivo, ter parado ali, sabia que aquela água já tinha tido muito para dar, já tinha percorrido muitos caminhos diferentes sem deixar de ser transparente e cheia de vida.
Agora, estava ali. Não vai a lado nenhum. Não toca ninguém. Não sacia a sede de ninguém. Está cheia de lixo e de verdura morta ou podre. Ninguém lhe quer tocar. Será que algum dia a chuva a vai ajudar a ter força para se movimentar outra vez; para se libertar do lixo, para voltar a ser transparente e atraente e útil?